segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Violência é subnotificada

Ao se debruçar sobre o dilema enfrentado por vítimas de violência – denunciar ou não o criminoso –, dois pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostraram que 85,7% dos casos de lesão corporal dolosa de uma cidade de médio porte do interior do Estado de São Paulo foram cometidos por pessoas muito próximas da vítima. Por razões como medo do autor do crime ou descrença na polícia, 45,5% dos casos não foram comunicados à polícia. No caso de violência sexual, a subnotificação chegou a 100%.

O trabalho de pesquisa, intitulado “Denunciar ou não: o dilema da vitimização”, de Sueli Andruccioli Felix e Márcio Ricardo de Carvalho, foi apresentado neste final de semana durante o 31º Congresso da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu, Minas Gerais. Os autores colheram dados em duas pesquisas de campo feitas em único município, Marília, localizado a 450 quilômetros da capital paulista, em 2001 e 2004. Para a pesquisa, foram entrevistadas pessoas no terminal rodoviário urbano e em dois shopping centers.

Dos casos de lesão corporal praticada por pessoas próximas da vítima, em 42,9% dos casos, os agressores eram pessoas da família – cônjuge e parentes próximos – e 42,9% por amigos e vizinhos. No caso de lesões contra mulheres, apenas 43% das vítimas denunciaram o caso.

“Normalmente, o crime de lesão corporal sofrido pela mulher é violência doméstica e, neste caso, ainda é considerado um dano privativo que a mulher acredita poder resolver privativamente. Quando a mulher denuncia a agressão, esse crime já é recorrente em sua vida (em média, ela já sofreu cinco agressões anteriores)”, disse Sueli Felix, uma das autoras do estudo.

Já nos crimes contra o patrimônio, apenas 7% das vítimas conheciam o seu ofensor. O estudo mostrou também que 41,33% dos casos de furtos deixam de ser comunicados por dificuldade em reconhecer o criminoso, por não acreditar que a polícia irá se empenhar na investigação e por julgar o fato banal. O valor é maior do que os casos de roubo, cuja subnotificação apurada foi de 38,75%.

Fonte: Jornal A TARDE

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